Departamento de Estudos Românicos

Por ocasião da celebração do Centenário do Departamento de Estudos Românicos e do Departamento de Filologia Italiana da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Zagrebe, é importante relembrar que no seu início esteve a criação, da então designada, Cátedra de Filologia Românica.

O ensinamento das línguas e literaturas românicas havia começado ainda antes da criação da referida Cátedra, pois isso era um requisito prévio. De facto, o ensino da língua francesa na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas teve o seu início no semestre de verão do ano letivo de 1882/1883 e, no ano seguinte, o seu âmbito foi alargado com a introdução dos estudos literários.

Oito anos depois é introduzido o ensino de língua italiana que, algum tempo depois, se autonomiza como seminário. Mais tarde, depois de um período de integração no Departamento de Estudos Românicos (segundo a reorganização da Faculdade de Filosofia e Letras realizada a seguir à Segunda Guerra Mundial) é fundado, em 1964, um Departamento de Língua e Literatura Italianas autónomo.

Desde o início, os professores do Departamento de Estudos Românicos ofereciam cursos de outras línguas românicas e alguns destes cursos converteram-se em programas de estudos universitários. Em 1968 matricularam-se os primeiros estudantes em língua e literaturas espanholas, seguindo-se os estudos do português em 1982 e os estudos de romeno em 2003.
Para a romanística croata foi de grande importância a entrada na docência, no ano letivo de 1913-14, do professor Petar Skok (1881-1952) que se tinha doutorado em Viena, em 1905, sob a supervisão de Wilhelm Meyer-Lübke. Ele é considerado, a justo título, o pai da romanística croata e devido aos seus inúmeros trabalhos (cerca de 500 unidades bibliográficas) ganhou um amplo reconhecimento nos círculos linguísticos europeus e no resto do mundo. Este grande humanista, germanista, albanólogo, balcanólogo e, sobretudo, grande especialista dos estudos do Croata é ainda hoje lembrado como um excelente pedagogo e professor. Ao longo da sua carreira Petar Skok lecionou cerca de 100 matérias de temas diferentes referentes à língua e literatura francesa ou italiana, fonética francesa e românica em geral, didática da língua francesa, estudos românicos, influência das línguas românicas no croata, etc. Ocasionalmente lecionou outras línguas e as respetivas literaturas tais como o romeno, o espanhol, o português, o romanche e o provençal.

Um dos discípulos de Petar Skok foi Petar Guberina que desenvolveu a sua atividade científica (1913-2005) no campo da acústica fisiológica teórica e aplicada, da fonética aplicada à aquisição de línguas estrangeiras e do estudo das deficiências na audição e na fala. Guberina foi igualmente o autor do método verbo-tonal (MTV) para reabilitação de indivíduos surdos-mudos, o que o tornará célebre nos meios científicos mundiais. Em colaboração com especialistas franceses de Saint Cloud, criou o método audiovisual estruturo-global de aprendizagem de línguas estrangeiras.

Antun Polanšćak (1910-1978) não foi apenas um excelente promotor dos escritores franceses na Croácia (sobretudo Balzac, Zola e Proust) mas teve um papel importante na divulgação de autores croatas em França (especialmente Krleža, Marinković, Krklec, Desnica e Kaštelan) que ele mesmo traduziu para o francês.

Vojmir Vinja (1921-2007) foi um dos maiores e mais influentes romanistas croatas depois de Petar Skok. Dedicou a maior parte da sua investigação científica aos contactos croato-românicos na zona adriática, assim como à terminologia da fauna do Adriático. Além de numerosos trabalhos dedicados à língua e literatura francesas, é preciso destacar o seu Dicionário Espanhol-Croata (na primeira edição em colaboração com R. Musanić) e a sua colaboração com linguistas estrangeiros, que levou à criação do Atlas Linguístico do Mediterrâneo. Vojmir Vinja foi membro da Academia de Ciências e distinguiu-se enquanto tradutor de obras capitais da literatura antiga francesa e espanhola, como, por exemplo, a tradução das Obras Completas de Montaigne (2007), da Gramática Geral de Port-Royal (1999), do De vulgari eloquentia de Dante (1998), do Curso de Linguística Geral de Ferdinand de Saussure (2000) ou do Vocabulário das instituições indo-europeias (2005) de Émile Benveniste.

August Kovačec (1938) sucedeu a Vojmir Vinja como chefe do Departamento de Estudos Românicos. Depois dos seus estudos em Zagrebe, Kovačec aprofundou os seus conhecimentos em balcanologia na Universidade de Bucareste e em seguida em França, onde, sob a direção dos eminentes linguistas Émile Benveniste e André Martinet desenvolveu estudos sobre linguística geral e francesa. Sendo um dos raros linguistas que conhecia a estrutura de quase todas as línguas europeias e de um grande número de línguas não-europeias, ele era regularmente convidado, pelas mais prestigiadas universidades da Europa, como conferencista. Nas suas investigações revelou um interesse particular por temas da linguística balcânica. Em 1971 publicou o seu livro mais famoso, premiado pela Academia da Roménia, Descrição do istro-romeno atual, e em 1998, o Dicionário Istro-Romeno-Croata, seguido de uma gramática e de textos. Debruçou-se, em outra das suas investigações sobre os Sefarditas no território da ex-Jugoslávia focando, em particular, os contactos das suas línguas com o croata. Publicou numerosos artigos científicos sobre a língua francesa e a sintaxe românica comparada nas revistas científicas mais importantes da época. Enquanto especialista de Francês antigo, escreveu os capítulos sobre a literatura francesa do séc. XIV a XVI na História da Literatura Mundial (1982), bem como o capítulo sobre a literatura romena. Além disso traduziu textos literários, especialmente textos antigos. No Instituto Lexicográfico Miroslav Krleža, foi redator chefe do Léxico Geral Croata (1996-2001) e da Enciclopédia Croata (2001-2005).

Predrag Matvejević, durante muitos anos chefe do Departamento de Estudos Românicos, é conhecido dentro e fora das fronteiras croatas, antes de tudo, como escritor e ensaísta premiado (Breviário mediterrâneo, 1987, 1990, 1991; Epistolário oriental, 1995; A outra Veneza, 2004). Gabriela Vidan, chefe da Cátedra de Literatura Francesa até 1990, é lembrada pelo seu papel de mediadora entre as duas culturas (A Croácia – história cultural e as suas ligações com a Europa, 2014). Os seus colegas Ingrid Šafranek e Jere Tarle criaram, com ela, as bases da tradução consecutiva e simultânea no nosso país, tendo, igualmente, publicado estudos sobre Albert Camus (Tarle), Proust, Stendhal, Flaubert e “escrita feminina” (Šafranek). Milivoj Telećan, também membro da equipa de tradução simultânea, é mais conhecido como tradutor literário do espanhol e do francês (em particular das obras de Gabriel García Márquez e Jorge Luis Borges). Karlo Budor, também tradutor além de professor, especializou-se sobretudo nos domínios da gramática espanhola e das relações culturais e diplomáticas (Espanha e Croácia: entre diplomacia e política, O diplomata espanhol D. Fernando Alcalá Galiano y Smith, Conde de Torrijos – 1883-1958 (2004) e Diplomacia espanhola e o Estado Independente da Croácia (2006). Yvonne Vrhovac centrou a sua atividade na melhoria da posição da língua francesa no sistema escolar croata e na promoção do ensino de línguas estrangeiras. Com o seu trabalho colaborou, de forma significativa, na adaptação do material didático do Conselho da Europa (Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, Portefólio Europeu das Línguas) e na criação do Mestrado de formação de professores de FLE, neste departamento. Ela é autora (e coautora) de numeroso material pedagógico e de manuais de francês destinados aos alunos das escolas elementares (Un, deux, trois, nous voilà) e secundárias (Réfléchis et dis-le en français). Blaženka Βubanj é também autora de manuais usados em muitas escolas de línguas estrangeiras (Le français pour vous) assim como nas escolas de formação do setor hoteleiro (Voyages, voyages). É importante mencionar a contribuição de Nataša Desnica-Žerjavić no ensino da fonética com a publicação do seu manual – Phonétique française (1996).

Nos últimos anos as atividades de investigação científica do Departamento de Estudos Românicos têm sido desenvolvidas através de projetos de investigação e da organização regular de conferências.